Para
celebrar o bicentenário da emancipação política do estado, comemorado no dia 16
de setembro, o Gazeta Rural conta a história de uma das principais bases da
economia local.
celebrar o bicentenário da emancipação política do estado, comemorado no dia 16
de setembro, o Gazeta Rural conta a história de uma das principais bases da
economia local.
Por
Gazeta Rural
Gazeta Rural
No
mês em que Alagoas comemora 200 anos de emancipação política, plantadores de
cana-de-açúcar também têm muito o que comemorar. Mesmo com a crise e com tantas
mudanças, o setor se mantém como uma das principais fontes de economia do
estado.
mês em que Alagoas comemora 200 anos de emancipação política, plantadores de
cana-de-açúcar também têm muito o que comemorar. Mesmo com a crise e com tantas
mudanças, o setor se mantém como uma das principais fontes de economia do
estado.
A
história dessa cultura agrícula se mistura à do estado. Atualmente, não é
difícil encontrar ruínas de engenhos cobertas pela vegetação, mas que guardam
parte da história de Alagoas. Um passado ainda presente.
história dessa cultura agrícula se mistura à do estado. Atualmente, não é
difícil encontrar ruínas de engenhos cobertas pela vegetação, mas que guardam
parte da história de Alagoas. Um passado ainda presente.
“Mesmo
quando nós celebramos a nossa independência de Pernambuco, em 1817, já o foi
por conta da produção de açúcar e de algodão. E principalmente do açúcar. Nós
tivemos uma invasão holandesa aqui, que durou quase 30 anos, e o motivo
chamava-se ‘guerra do açúcar’. Para ficar com a produção do açúcar, que era a
comódite mais valorizada do mercado internacional”, explica o historiador
Douglas Apratto.
quando nós celebramos a nossa independência de Pernambuco, em 1817, já o foi
por conta da produção de açúcar e de algodão. E principalmente do açúcar. Nós
tivemos uma invasão holandesa aqui, que durou quase 30 anos, e o motivo
chamava-se ‘guerra do açúcar’. Para ficar com a produção do açúcar, que era a
comódite mais valorizada do mercado internacional”, explica o historiador
Douglas Apratto.
Foi
no período colonial, quando Alagoas ainda pertencia a Pernambuco, que surgiram
os primeiros engenhos de cana-de-açúcar, Buenos Aires e Escurial, onde hoje
fica o município de Porto Calvo, na Região Norte.
no período colonial, quando Alagoas ainda pertencia a Pernambuco, que surgiram
os primeiros engenhos de cana-de-açúcar, Buenos Aires e Escurial, onde hoje
fica o município de Porto Calvo, na Região Norte.
“Cristóvão
Lins foi um dos desbravadores da corte Duarte Coelho. Ele fundou esses
engenhos, Escurial e Buenos Aires, que deram origem a outros e outros e outros.
São centenas, quase milhares de engenhos que surgiram. Desapareceram, pelo
turbilhão do tempo, mas muitos deles ainda tem a sua remanescência”,
afirma Apratto.
Lins foi um dos desbravadores da corte Duarte Coelho. Ele fundou esses
engenhos, Escurial e Buenos Aires, que deram origem a outros e outros e outros.
São centenas, quase milhares de engenhos que surgiram. Desapareceram, pelo
turbilhão do tempo, mas muitos deles ainda tem a sua remanescência”,
afirma Apratto.
Além
de sustentar a expansão colonizadora, os engenhos também foram núcleos.
Povoados que, mais tarde, deram origem às cidades alagoanas. De acordo com
Apratto, várias cidades surgiram do engenho.
de sustentar a expansão colonizadora, os engenhos também foram núcleos.
Povoados que, mais tarde, deram origem às cidades alagoanas. De acordo com
Apratto, várias cidades surgiram do engenho.
“Nosso
vizinho, Pilar, surgiu do Engenho Velho. A própria capital de Alagoas, Maceió,
nasceu de um engenho ali na praça Pedro II, o engenho Massayó. Nasceu de um
engenho que era exatamente em frente à Catedral. Ali, o rio passava. O
Salgadinho, que escoava a produção do engenho”, lembra o historiador.
vizinho, Pilar, surgiu do Engenho Velho. A própria capital de Alagoas, Maceió,
nasceu de um engenho ali na praça Pedro II, o engenho Massayó. Nasceu de um
engenho que era exatamente em frente à Catedral. Ali, o rio passava. O
Salgadinho, que escoava a produção do engenho”, lembra o historiador.
Apratto
diz que toda a nossa formação social nasceu dos antigos banguês, engenhos
movidos por tração animal que eram verdadeiros feudos, lugares que se tinha uma
certa autonomia, independência, onde os seus proprietários moravam na casa
grande e em torno dela, havia a senzala, onde gravitavam os escravos. “E
formou, então, para Alagoas uma sociedade hierarquizada, uma sociedade
senhorial, escravista, que é a cana-de-açúcar”.
diz que toda a nossa formação social nasceu dos antigos banguês, engenhos
movidos por tração animal que eram verdadeiros feudos, lugares que se tinha uma
certa autonomia, independência, onde os seus proprietários moravam na casa
grande e em torno dela, havia a senzala, onde gravitavam os escravos. “E
formou, então, para Alagoas uma sociedade hierarquizada, uma sociedade
senhorial, escravista, que é a cana-de-açúcar”.
Mas
os engenhos também foram o berço da nossa cultura, das manifestações culturais
e folclóricas, com forte influência ibérica, trazida pelos portugueses.
os engenhos também foram o berço da nossa cultura, das manifestações culturais
e folclóricas, com forte influência ibérica, trazida pelos portugueses.
“Todo
esse folclore rico de Alagoas surgiu nos terreiros da casa grande, da senzala
onde havia festa. Os engenhos, como unidades, classe autônomas e independentes,
tinham festas, faziam festa no dia que iniciavam o plantio, no dia que
iniciavam colheita, que iniciavam produção. Havia festa do senhores, faziam
festa e convidavam os escravos os mestiços, as classes subalternas, para
participar. E aí surgiu o reinado, a chegança, o pastoril”, afirma
Apratto.
esse folclore rico de Alagoas surgiu nos terreiros da casa grande, da senzala
onde havia festa. Os engenhos, como unidades, classe autônomas e independentes,
tinham festas, faziam festa no dia que iniciavam o plantio, no dia que
iniciavam colheita, que iniciavam produção. Havia festa do senhores, faziam
festa e convidavam os escravos os mestiços, as classes subalternas, para
participar. E aí surgiu o reinado, a chegança, o pastoril”, afirma
Apratto.
Assim
como a cultura, a base política de Alagoas veio do ciclo da cana-de-açúcar e se
consolidou dentro desse contexto. Um exemplo disso, cita o historiador, foi a
eleição para governador do estado em 2006, quando a disputa se deu entre dois
grandes empresários do setor, Teotonio Vilela e o João Lyra.
como a cultura, a base política de Alagoas veio do ciclo da cana-de-açúcar e se
consolidou dentro desse contexto. Um exemplo disso, cita o historiador, foi a
eleição para governador do estado em 2006, quando a disputa se deu entre dois
grandes empresários do setor, Teotonio Vilela e o João Lyra.
“Você
tem na política também a representação dessa nobiliarquia que era açucareira,
porque ela dominou. A política alagoana começa no século XIX, em 1835, quando
surge a primeira assembleia provincial. E não obstante, a política passou a ter
aquele comando que seus engenhos já tinham na sua terra. Então o senhores de
engenho mais fortes, os mais influentes, passaram a ser representantes
provinciais e passaram a ter o domínio. Quando vem a república você tem
novamente também a força dos engenhos, fazendo uma dobradinha com o algodão, e
com a gente do São Francisco, no caso de Euclydes Malta e de outros
presidentes”, analisa.
tem na política também a representação dessa nobiliarquia que era açucareira,
porque ela dominou. A política alagoana começa no século XIX, em 1835, quando
surge a primeira assembleia provincial. E não obstante, a política passou a ter
aquele comando que seus engenhos já tinham na sua terra. Então o senhores de
engenho mais fortes, os mais influentes, passaram a ser representantes
provinciais e passaram a ter o domínio. Quando vem a república você tem
novamente também a força dos engenhos, fazendo uma dobradinha com o algodão, e
com a gente do São Francisco, no caso de Euclydes Malta e de outros
presidentes”, analisa.
“Mas
até o século XXI, nosso governador de Alagoas atual, junto com prefeito de
Maceió, também é de origem açucareira. As duas grandes lideranças hoje jovens
na política são também ligadas ao mundo do açúcar. O Rui Palmeira, pela usina
Sinimbu, pelo engenho Prata. E o Renan Filho também, lá em Murici. Então, ainda
na política é muito forte”, expõe Apratto.
até o século XXI, nosso governador de Alagoas atual, junto com prefeito de
Maceió, também é de origem açucareira. As duas grandes lideranças hoje jovens
na política são também ligadas ao mundo do açúcar. O Rui Palmeira, pela usina
Sinimbu, pelo engenho Prata. E o Renan Filho também, lá em Murici. Então, ainda
na política é muito forte”, expõe Apratto.
Mas
antes que os descendentes dos representantes do açúcar entrassem na política,
teve início da segunda etapa da cana-de-açúcar. Foi no sécullo XIX, quando as
senzalas, aos poucos, deixaram de existir. Os antigos escravos deram lugar aos
bóias-frias, a produção se industrializou, e os engenhos foram substituídos
pelas usinas.
antes que os descendentes dos representantes do açúcar entrassem na política,
teve início da segunda etapa da cana-de-açúcar. Foi no sécullo XIX, quando as
senzalas, aos poucos, deixaram de existir. Os antigos escravos deram lugar aos
bóias-frias, a produção se industrializou, e os engenhos foram substituídos
pelas usinas.
“É
o ciclo dos engenhos centrais. Das usinas que passaram a industrializar, para
competir no mercado internacional com outras produções que surgiram no mundo: a
produção da beterraba na Europa e alguns países produtores novos, que estavam
concorrendo com o açúcar do Brasil, que sempre foi um produto fortíssimo”,
explica.
o ciclo dos engenhos centrais. Das usinas que passaram a industrializar, para
competir no mercado internacional com outras produções que surgiram no mundo: a
produção da beterraba na Europa e alguns países produtores novos, que estavam
concorrendo com o açúcar do Brasil, que sempre foi um produto fortíssimo”,
explica.
A
transição se deu a partir das usinas Utinga Leão, Brasileiro e Serra Grande, as
três centrais que iniciaram o ciclo usineiro em Alagoas e simultaneamente a
decadência e o fim dos engenhos banguês. “Essa transição você tem com a
questão do braço escravo, a dificuldade de comprar os escravos que trabalhavam
nos engenhos banguês, com a concorrência internacional muito acirrada com novos
mercados vendedores”.
transição se deu a partir das usinas Utinga Leão, Brasileiro e Serra Grande, as
três centrais que iniciaram o ciclo usineiro em Alagoas e simultaneamente a
decadência e o fim dos engenhos banguês. “Essa transição você tem com a
questão do braço escravo, a dificuldade de comprar os escravos que trabalhavam
nos engenhos banguês, com a concorrência internacional muito acirrada com novos
mercados vendedores”.
A
indústria trouxe modernização, máquinas, equipamentos, hoje objetos de museu,
mas que na época eram considerados de alta tecnologia. O meio de transporte
para escoar a produção também mudou, as linhas férreas desenharam os caminhos
de um novo tempo.
indústria trouxe modernização, máquinas, equipamentos, hoje objetos de museu,
mas que na época eram considerados de alta tecnologia. O meio de transporte
para escoar a produção também mudou, as linhas férreas desenharam os caminhos
de um novo tempo.
Mas
isso era só o começo de muitas outras mudanças que viriam pela frente. O
plantio também passou por várias transformações, principalmente em pesquisa.
São mais de 200 hectares destinados ao melhoramento genético.
isso era só o começo de muitas outras mudanças que viriam pela frente. O
plantio também passou por várias transformações, principalmente em pesquisa.
São mais de 200 hectares destinados ao melhoramento genético.
O
gerente de Planejamento, Pesquisa e Desenvolvimento de uma das usinas do
estado, Mário Sérgio Matias, conta que a análise é minuciosa. “A questão é
em cima do que você está querendo avaliar: a produtividade, a resistência à
seca, a questão do material ser precoce, médio ou tardio. O nível de maturação,
resistência a doenças, resistência a pragas”.
gerente de Planejamento, Pesquisa e Desenvolvimento de uma das usinas do
estado, Mário Sérgio Matias, conta que a análise é minuciosa. “A questão é
em cima do que você está querendo avaliar: a produtividade, a resistência à
seca, a questão do material ser precoce, médio ou tardio. O nível de maturação,
resistência a doenças, resistência a pragas”.
As
pesquisas vão desde melhoramento genético, tratos culturais, resistência a
fungos, até novas técnicas de adubação.
pesquisas vão desde melhoramento genético, tratos culturais, resistência a
fungos, até novas técnicas de adubação.
“A
gente está substituindo grande parte da nossa adubação que era química por
adubação orgânica”, conta o gerente agrícola de usina, Pedro Carnaúba.
gente está substituindo grande parte da nossa adubação que era química por
adubação orgânica”, conta o gerente agrícola de usina, Pedro Carnaúba.
No
campo, o maquinário também foi modernizado, e o número de trabalhadores é cada
vez menor. O plantio, que praticamente era tudo manual, está se transformando em
plantio mecanizado. Antes, eram necessários 25 homens pra fazer um hectare,
hoje esse número caiu para 12. E a previsão é cair ainda mais, restando apenas
três, que serão operadores de máquinas.
campo, o maquinário também foi modernizado, e o número de trabalhadores é cada
vez menor. O plantio, que praticamente era tudo manual, está se transformando em
plantio mecanizado. Antes, eram necessários 25 homens pra fazer um hectare,
hoje esse número caiu para 12. E a previsão é cair ainda mais, restando apenas
três, que serão operadores de máquinas.
O
que antes era um mercado quase exclusivo para a cana-de-açúcar, abriu-se para
outras Mas hoje divide espaço com outras fontes de economia. “Nós temos
hoje as atividades mercantis, o empreendedorismo, atividades comerciais
substituindo o açúcar. Não tem, nem de leve, uma vaga lembrança do momento em
que ele tinha o predomínio absoluto da economia, isso por conta da modificação
da sociedade”, avalia Apratto.
que antes era um mercado quase exclusivo para a cana-de-açúcar, abriu-se para
outras Mas hoje divide espaço com outras fontes de economia. “Nós temos
hoje as atividades mercantis, o empreendedorismo, atividades comerciais
substituindo o açúcar. Não tem, nem de leve, uma vaga lembrança do momento em
que ele tinha o predomínio absoluto da economia, isso por conta da modificação
da sociedade”, avalia Apratto.
São
mais de dois séculos de história, memórias, mudanças, desafios, mas o passado
não se deixará esquecer. As lembranças dos engenhos e das usinas estarão sempre
presentes nas linhas do trem, na nossa terra, na nossa bandeira, para lembrar
que a história de Alagoas também é a história da cana-de-açúcar.
mais de dois séculos de história, memórias, mudanças, desafios, mas o passado
não se deixará esquecer. As lembranças dos engenhos e das usinas estarão sempre
presentes nas linhas do trem, na nossa terra, na nossa bandeira, para lembrar
que a história de Alagoas também é a história da cana-de-açúcar.
Fonte : Gazeta Rural