Comunidade em Pariconha, AL, constrói casas de tijolos feitos com cinzas do bagaço da cana-de-açúcar

Moradores
de uma comunidade no Sertão de Alagoas foram capacitados para fabricar os
tijolos e construir as novas moradias.


Por
Michelle Farias, G1 AL


Dona
Maria Ana da Conceição mora com os dois filhos e quatro netos em uma casa de
taipa (pau a pique) de apenas dois cômodos e sem banheiro na comunidade
Jeripancó, no município de Pariconha, Sertão de Alagoas. Assim como ela, cerca
de 50 pessoas vivem na comunidade em moradias sem nenhum conforto ou
privacidade.
Mas
esta realidade está prestes a mudar. A partir de uma parceria firmada entre uma
fundação alagoana sem fins lucrativos, o Instituto federal de Alagoas (IFAL) e
a prefeitura do município, os moradores de Jeripancó estão construindo casas de
alvenaria, com tijolos produzidos com cinzas do bagaço da cana-de-açúcar.
“Vai
ser muito bom sair daqui e ir pra uma casa maior. Moro aqui [na casa de taipa]
há mais de 50 anos e eu sei que vai ser melhor pra meus filhos e netos.
Disseram que a casa não vai esquentar e que vai ter um lugar para colocar o
fogão”, comemora Dona Maria.
Os
tijolos ecológicos, feitos a partir das cinzas do bagaço da cana-de-açúcar,
foram criados pelas estudantes do IFAL Samantha Mendonça, 24, e Taísa Tenório,
25, para baratear as construções e levar moradia digna a famílias carentes.
Foram anos de pesquisa até o projeto final, premiado na categoria Science, da
Genius Olympiad, evento realizado nos Estados Unidos.
Mas
para que esse sonho saísse da teoria da sala aula, era preciso investimento
financeiro. Agora, 4 anos depois, o projeto está sendo posto em prática.
Os
moradores de Jeripancó aprenderam as técnicas de produção dos tijolos para que
eles pudessem construir as próprias casas. Aline, filha da dona Maria Ana,
lembra o empenho da comunidade, que produziu seis mil tijolos em menos de 10
dias, o necessário para a construção da casa toda.
“Botamos
a mão na massa. Puxar o ferro [a prensa onde é colocada a massa para fabricar o
tijolo] ficou para os homens. A gente avalia a terra, peneira, aí depois de
peneirado, coloca no carro com cimento”, lembra Aline.
As
moradias de taipa na comunidade não têm banheiro, água encanada, ou rede de
esgoto. A maioria tem apenas uma sala e um quarto sem porta. O banheiro é
comunitário e afastado das casas.
O
fogão a lenha é improvisado no meio da sala, o que deixa o local ainda mais
quente. As casas novas terão três quartos, banheiro, cozinha e um espaço
destinado para o fogão a lenha.
A
casa de taipa onde a família de Dona Maria mora é feita com barro e madeira.
Esse tipo de moradia atravessa gerações, mas um dos principais problemas é que
a estrutura favorece a proliferação de insetos, principalmente o barbeiro,
transmissor da doença de Chagas.
Para
quem vive no improviso, a casa de alvenaria será a realização de um sonho. Dona
Maria dorme em uma cama de casal com dois netos, a filha divide outra cama de
solteiro com outras duas crianças, e o filho fica em uma rede na sala.
Ela
já imagina até a divisão dos cômodos para a nova moradia. “Um quarto é de Aline
mais as meninas. O outro é do rapaz [o filho]. E o outro é meu e dos outros
meninos”, afirma a idosa.
“Morar
em uma casa cheia de barbeiro, e passar pra uma casa como essa [com tijolos] é
uma glória. A gente agradece primeiramente a Deus”, comemora dona Maria.
Capacitação
e execução do projeto
A
capacitação dos moradores da comunidade foi realizada pela equipe do IFAL, que
ganhou mais dois integrantes para dar continuidade ao projeto inicial.
“A
gente sabe que muitos projetos são feitos e arquivados. E fazer parte desse
projeto e entregar e participar do sonho dessa família que é tão carente é
muito gratificante. É muita emoção, torcemos que seja replicado em outras
comunidades”, diz uma das novas integrantes, a estudante de engenharia civil,
Juliana Brito.
A
orientadora do projeto, a engenheira civil Sheyla Marques, explica que a
Fundação Alcace entrou em contato com o IFAL de Palmeira dos Índios e foi
firmada uma parceria para construir as casas com os tijolos ecológicos.
 “Foram quatro anos de pesquisa e viabilizar o
tijolo. Nossa maior dificuldade era disponibilizar o projeto para a comunidade,
como pensado desde o início. Até que veio essa parceria com o IFAL e a
Alcance”, afirma.
Para
os tijolos ecológicos saírem da teoria, além da parceria com a fundação
Alcance, foi necessário um projeto de extensão, o Casa Solidária. Os alunos do
IFAL participaram de uma competição onde eles teriam que fazer a planta baixa
de uma casa com um orçamento de R$ 7,5 mil. O modelo de casa vencedor seria
construído na comunidade.
Quem
ganhou o desafio foi o estudante de engenharia civil Arthur Amaral. Ele conta
que a produção dos tijolos feita pela própria comunidade barateou os custou.
“Como
a comunidade construiria o tijolo, então ficou bem mais em conta. Porém, mesmo
assim, foi um grande desafio fazer uma casa com três quartos, banheiro, cozinha
e sala, com o orçamento apertado. Além disso, tinha o espaço para o fogão a
lenha. Nosso medo era que a casa ficasse quente, mas com os estudos que
fizemos, vai dar tudo certo”, afirma Amaral.
O
estudante diz que contou com ajuda dos professores da universidade para
desenvolver a planta baixa. “Os nossos professores ajudaram muito. E fico feliz
de ter tido essa oportunidade. O desafio e os projetos ficaram tão bons que a
fundação resolveu construir uma das casas com a planta baixa do segundo
colocado no desafio”, conta.
O
novo objetivo das idealizadoras dos tijolos é ver o projeto crescer,
principalmente, em comunidades carentes.

“Sei
que não mudaremos toda uma realidade de pobreza na qual aquelas famílias estão
inseridas, mas o mínimo que conseguirmos fazer já será uma vitória. Que
possamos alçar voos mais altos com esse projeto de formar a atingir mais
comunidades, que mais pessoas acreditem no que vem sendo produzido nas
instituições de ensino e busquem fomentar a extensão dessas ideias de modo a
transformar a realidade de um local”, afirma Samantha.



Fonte : G1 AL

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